Com um piso propenso a quedas,quando molhado,e até com gelo espalhado inadvertidamente,com a sinalética mal orientada,e com o Zé pelo vinho na "tasca",lá se aventurou a senhora idosa num caminho que a levasse tranquilamente até a uma das saídas deste espaço,mas o certo é, que em um estrondo se virou de pernas para o ar,bateu com a cabeça no chão,e mais não se levantou.
Correram os mais solidários,já outros prefeririam ver ao longe,e inteirarem-se da saúde no dia seguinte,e quando a viram,enquanto isso,quem a rodeou,mostrou preocupação e prontamente alertou o INEM.
Viveram-se momentos aflitivos,e os comentários soltavam-se em perspetivas complicadas de ouvir e sentir,a senhora estatelada em cima da água, manifestava convulsões de medo,e foi aqui,que pedi aos presentes que se amparasse quem estava mal,mas também contendo-se em comentários rodeados de um terror que estaria a perturbar a vítima.
De seguida, fitei-a nos olhos,e comecei estrategicamente a tentar virar-lhe a mente,artificializei um rosto mais optimista,e pedi-lhe que olhasse para mim,soltando de seguida admiração por uma "...melhoria notória...",que não estava por lá,mas interessava como contraponto à aflição que a rodeava.
Repeti algumas vezes,"...há...já está melhor,e até a perceber o que lhe estou a dizer...",de seguida,continuei..."já movimenta a cabeça,e já olha para mim a sorrir..." e finalizando..."...que bom.....
Nisto surgiram os paramédicos,a ambulância estava pronta para a levar para o Hospital,e aí,afastei-me em silêncio,pedindo a Deus que tomasse conta dela...
Mas isto foi no Sábado,e hoje Domingo,e depois de ir ao Café beber um descafeinado,voltei para o meu módulo,e entretanto,vejo uma senhora idosa entrar no espaço,sorrindo,e dizendo-me efusivamente:
"...Estou aqui,a olhar para si e a sorrir...",agradecendo-me a preocupação interventiva,e adiantando,que me viu passar,e me reconheceu,elogiando o meu gesto,e complementando,que gostou do que lhe disse naquele momento tão difícil,idealizando aquilo que deviria ser,mas nem sempre o é,de que "...temos que ser uns para os outros...".
Fiquei contente por a ver bem,mas mais ainda,por um agradecimento que não era preciso,mas me fez refletir mais uma vez também naquilo pelo que tanto luto,e assim,se justifica que ajude a alimentar para bem do mundo.
Em tempos de pouca vontade para sorrir,fui "apanhado" por alguém que me encheu o coração,e revitalizou a esperança de nunca desistir...
Custcruz