Afinal a vida foi,é...e será sempre um desafio na sequência sólida de percorrer caminhos que se ajustem à reflexão equilibrada e tolerante, onde os projetos nunca acabem, e se definam cada vez mais naquilo que queremos ser, e não no que os outros querem que nós sejamos...
Perceber que refletir e concluir são atos que não podem estar confinados apenas ao reflexo daquilo que experimentamos sozinhos, ou obcecadamente vemos nos outros,caindo assim na tentação de criar verdades absolutas agarradas a pressupostos com falta de equilíbrio identificativo da nossa própria vontade...
Não podemos nem devemos querer para os outros aquilo que foram momentos nossos,e ajustados apenas e só para nós próprios...
Fazer crescer é educar e tentar ser amigo,é procurar limar com valores acrescentados os passos próprios de uma imaturidade pela qual quando jovens naturalmente passamos,e ou se está bem atento,ou então ficamos apenas por nossa conta,e isso pode ser muito perigoso...
Sinto sinceramente que os "meus" me olham com a admiração de quem foi livre de escolher o seu próprio caminho,com responsabilidade e dispensando cópias comportamentais,mas entendendo que a partir de uma "base experimentada" também podemos ramificar genuinamente o nosso próprio"eu"...
Só se vive uma vez,e tirar originalidade a um ser,é limitar as emoções que estavam reservadas para cada um,e isso eu penso que não é justo...

Custódio Cruz

Aprender com a nossa sombra,e fixar os olhos em outras...

Aprender com a nossa sombra,e fixar os olhos em outras...
"...No dia em que me silenciarem a voz,não me apagarão os gestos,no dia em que me aniquilarem os gestos,nunca farão esquecer os meus sentimentos..." CustCruz

segunda-feira, 23 de maio de 2011

Gentes do Mar..no CAE até 12 de junho...(parte II)


Foi a 3ª vez que fui ao CAE...
Sempre de forma o mais anónima possível...mesmo que nem por isso tenha qualquer razão muito especial...mas apenas também por um método que configura um silêncio que gosto de experimentar...abordando o que quer que seja à minha maneira e com a minha própria sensibilidade...
Exponho a minha atitude na procura de um estilo único e cultivado por alguém...começando por me abstrair de um mundo...e procurando a porta de um outro...que me conceda as emoções de uma possível aventura...que até me possa repetir referências já conhecidas...mas se possível me traga também algo de novo...
Foi como viver uma viagem...fui como ser "Gente do Mar" durante aquele espaço de tempo...
foi como ser pescador porque é afinal o que somos...e mesmo que seja uma vida dura...é libertadora e mesmo capaz de nos aliviar e proteger dos olhares dos outros...

E isto...segredou-me logo de início a introdução do tio do Pedro...fazendo-me acreditar ainda que era o mar da Figueira que se iria invocar ...e que na sua opinião ele era limpo...como a alma da sua própria gente...


De repente...estou no meio de um amontoado de redes...de agulha em punho remendo a teia do meu sustento...e nem sequer me sinto incomodado pelo fato de oleado que tenho vestido...nem pelo"comparsa" que ao meu lado de fatinho de treino...só me dá uma mãozinha na pega da rede...deixando a outra no bolso que nem um distinto doutor...
Respiro feliz aquele aroma intenso a peixe...não torpeço nas bóias pelo volume e peso das minhas galochas...e também não me deixo encadear por aquele foco de luz que projecta os caminhos de um espaço pequeno...mas que se tem que saber dividir por todos...e ser solidário por uma causa que também é a de qualquer um de nós...
Família...uma pequena grande família...de volta do tacho se saboreia uma suculenta caldeirada...se faz a pausa dos guerreiros antes do ataque final...se desabafam confidências vividas em terra...como que receando que possam ser as últimas palavras de uma vida que ninguém quer perder......
Afinal de contas...temos que ser um por todos e todos por um...a caminho daquele imenso mar tão vazio de gente...mas tão cheio daquilo que será a luz dos nossos olhos...mesmo que nos riscos de emoções mais desequilibradoras...por um ondular de um mar ameaçador e que poderá precipitar a fragilidade desta embarcação...que se espera seja a mesma...que nos poderá levar de novo para terra...muito felizes e contentes...
Depois de um último olhar introspectivo sobre outras famílias...que em outras "cascas de nozes" têm o mesmo destino e missão...ficamos a postos num silêncio contido...em diálogos calmos e serenos num lusco fusco do cair de mais uma noite...que nos traz também o inicio de uma outra aventura...preparada num rigor que não nos deixe falhar...e assim não nos faça perder o tempo precioso para mais uma vitória no mar...
Solta-se um grito daquele convés aconchegado...de um homem experimentado...até pela certificação do seu olhar decidido...e mesmo prespectivada na calvice e rugas que lhe preenchem a testa e a cara...e ao que de certo se poderá acrescentar muitas histórias de mar...
Mas não há tempo...vamos abalar que se faz tarde...já navega aquele "pontinho brilhante" que com muitas redes em tons de um verde esperança...persegue então o sonho de uma boa safra...
Aconchegam-se os gorros e tapam-se as orelhas daquela brisa gélida...faz-se um compasso de espera para um arranque que parece que fez parar o tempo...
Mas não...solta-se bruscamente de novo uma ordem do mestre...e logo corro num pique de velocidade só apanhada pelo engenho e arte do Pedro Cruz...
Era um pedido de ajuda...por uma articulação colectiva de uma providencial postura dinâmica...de quem perto estava de chegar ao "campo de batalha"...e se iria abeirar da hora de soltar as redes...iniciando o engodo com uma armadilha que nos enchia de expectativas...e no final nos completou no orgulho de uma missão que tinha tanto de arriscada...como de pertinente e gratificante...
Dei por mim no meio de gritos de emoção...olhando de soslaio para os meus companheiros de viagem...despenteados e de lágrimas nos olhos...exprimiam solidárias um sofrimento que já tinha passado...
Abraçados num só destino...iniciámos a viagem de regresso a casa...e muito depois...nem os gritos aflitivos das gaivotas perturbaram o orgulho numa pescaria que até para elas haveria de chegar...
Cabaz em cabaz se encheram pequenos tanques de muito peixe...se acondicionaram e transportaram para um destino final...que juntariam a soma dos trocos que poderia ser distribuída por todos...
Bem sei que para uns mais...e outros menos...mas na certeza porém que nenhum se tinha furtado ao esforço de mais estes passos em frente...que calariam bocas famintas de famílias que em terra rezavam por amor aos seus...mas também ao meio com que afinal se sustentam todos os dias...
Lembro-me como se fosse hoje...que no final cada um caminhou para o aconchego de um lar que ansiosamente os esperava...
E sem grandes conversas e nem substanciais considerações...se arrumaram mais estas memórias vividas no aconchego do coração...para um dia serem contadas e mesmo que sofridas...carregadas de uma saudade de um mar...que ou se lá fica...ou a nossa mente nunca mais abandona...
Quando dei por ela...bati numa vitrina de vidro...
Olha...olha...lá estão os búzios do tal puto irreverente que me acordou a meio do caminho...mas que ainda assim não me impediu de ter feito a minha primeira viagem no mar...com gente do mar...com a gente da nossa Figueira...da Figueira do António Agostinho...traduzida na objectiva e sensibilidade brilhante do Pedro Cruz...e que mais nos alertou para que tenhamos cada vez mais a consciência...que no nosso concelho existem grandes heróis...que fazem do seu árduo e duro trabalho...o contexto de um livro com memórias que agora tenho...que agora vivi...que agora conheci...e que nunca mais vou esquecer...

Obrigado Pedro José Agostinho da Cruz


CNC