Atónito,sem reação,incrédulo,e mesmo por instantes não encontrei qualquer palavra que defini-se o sentimento que tomou conta de mim aquando do "estalo" com a triste notícia,e tudo porque embora o Grande Simão já estivesse há muito tempo hospitalizado,sempre acreditei com fundamento em visitas que lhe fiz,e mais ainda,em informações que me chegavam,que tudo iria correr bem,e o meu mentor na paixão pelo futebol,amigo e vizinho,voltaria a casa para reeditar cruzamentos de rua,onde a perspicácia da sua sabedoria,sempre doseada com uma humildade pura,acrescentaria mais valias ao desafio da reflexão pontual,onde qualquer versão tinha o rumo de conversa que ele construía,e nunca a que materializassem para alimentar a falsidade,o diz que disse,ou o equivoco hipócrita.
Pedro Simão,foi meu treinador,foi o meu primeiro chefe de equipa,pois que mesmo na condição de seu atleta nos juniores,também foi sem receios nem constrangimentos pela minha condição de jovem,que me recrutou para seu adjunto na orientação da categoria de juvenis da Naval 1º de Maio,e isto na época de 78/79.
Lembro-me como se tivesse sido ontem o momento marcante da oportunidade,como calharam dois jogos ao Domingo,e ele era treinador das duas equipas,num não joguei,e no outro disputado em Quiaios,contra o Ferreirense,fez-me assumir o comando enquanto líder de uma equipa federada,e onde 3-0 foi o resultado galvanizador para um trajeto que dali para a frente me levou aos sonhos que concretizei sempre sem dispensar os seus atentos conselhos.
Jamais esquecerei o brilho dos seus olhos e o entusiasmo das suas palavras,quando me deu boleia para a loja dos meus pais,e me repetiu no caminho todo,de que sabia que eu não ia falhar,e que agora era a altura certa para dar azo à predestinação que ele achava que eu tinha.
Pedro Simão,foi um grande senhor da Naval 1º de Maio,por aquilo que nos deliciou como atleta, treinador e dirigente,mas muito mais do que isso,pelo amor verdadeiro com que se entregou à causa Navalista,onde dispensou galões narcisistas,e se entregou de alma e coração a uma filosofia de "pau para toda a colher",onde não havia lugar a negas de nenhuma espécie,quando servir o clube fosse preciso para afirmar e reafirmar a sua vitalidade histórica.
A garra que sempre protagonizou dentro das quatro linhas,estendeu-a para fora delas,a determinação que não regateou no dia a dia,levaram-no a um patamar de um respeito na vida,que reuniu e reunirá sempre à volta da sua figura e da sua história,aqueles que sabem o que é trabalhar,que sabem o que é sofrer,que sabem o que é sonhar,que sabem o que é vencer na verdadeira acepção da palavra,e que até sabem que o numero 5,estará agora a sorrir,por continuar convicto do ultimo alerta que também a mim me confidenciou prostrado na cama do hospital:
Custódio,cuidado,há amigos que o são mesmo,outros que não o são tanto,mas pior,são os que parecem,mas nunca o foram.
Paz à sua alma,e fique ciente grande amigo,de que jamais o esquecerei a si e às sua lições...
Custódio Cruz