Recordar nomes e personalidades,não pode ser só lembrar a individualidade,pois tal seria ignorar de forma imprudente os contextos que fizeram florescer atitudes e méritos,que ao desligarem-se agora,se revelariam inseridos em definições abstractas que não teriam sentido à luz de toda uma vivência verdadeiramente colectiva,e que foi capaz de proporcionar e desenhar páginas de sonho,onde cada um foi uma estrela tocada por escolhas e conceitos que fez crescer todos de parte a parte.
Amadeu Cunha,é aquele mesmo que para a foto ajeita a bola,a olha com a paixão de quem lhe queria muito,a gostava de ter por perto,e que por isso mesmo,mais do que a reconquistar as vezes que fossem precisas aos adversários,se sentia capaz de a enrolar com os artifícios técnicos que a levassem ao êxtase de uma explosão de emoções.
A polivalência para mim,começou por ser fruto não só da análise detalhada das caratrísticas de cada jogador,mas também das necessidades e potencialidades com que se podia tirar partido em favor da equipa,ainda que perder tempo com posicionamentos individuais mal estruturados,pudesse,e valorando o objectivo formativo,não ser a pedra de toque que indicasse o caminho para um futuro perfeitamente definido em termos posicionais.
Esta minha aventura nesta equipa de juniores,foi forçada pelos próprios atletas,acredito que por uma fé inabalável em uma resposta ao desempenho até meio de uma época,que podia ainda ser compensada e acertada pelo conhecimento que tinha de todos eles,quer como seres humanos,quer como executantes,e o Amadeu,era só mais um lateral direito que subia no flanco,mas que por ter que regressar a trás na procura de um equilíbrio que não o comprometesse,perdia a parte do sonho onde as asas não teriam de se retrair para concretizar o feito mais vistoso do futebol.
De estatura baixa,era protagonista num pisar e trato técnico que se expunham em função de uma velocidade contida até ali,abdicada por força das exigências externas,a veleidades que o levassem a evidenciar os seus melhores trunfos de cariz inato.
Humilde e muito educado,cumpria o que lhe era pedido por qualquer treinador,mas quando nestes momentos da sua vida foi surpreendido com o cruzamento de quem defendia uma amplitude que o colocava na "linha da frente",logo sorriu para a sorte,respondeu ao "azar",e conquistou a dimensão que mais tarde o levaria à ribalta,ascendendo "ao primeiro time" da Naval,e depois a profissional de futebol pelo Vitória de Setúbal,o que o acabou por catapultar para ser internacional pela Selecção de Angola.
Amadeu Cunha,antes de ser meu jogador,aliás como quase toda a equipa daquele ano,já era meu amigo,e era daqueles atletas que não criavam problemas a ninguém,oriundo de África,muito por "vicissitudes de ordem casual",surgiu na Figueira da Foz numa linha de uma ambição controlada,e feita de valores que de certo os seus lhe terão transmitido.
Um grande abraço,numero 10.
Custódio Cruz
O jogo da minha estreia como treinador dos juniores da Naval, Amadeu saiu exausto, e marcou o golo da confirmação da primeira vitória em uma sequência de nove resultados sem derrota,que evitariam a descida aos distritais,e ao invés, nos promoveriam ainda pela primeira vez na história da Naval a uma Fase Final da 1ª Divisão de futebol...