A perspectiva da chegada de um "polvo imperial" ao Mercado Eng.Silva,nunca deixou de ser imaginada pelos "loucos do espaço",e eis que bem cedo e por uma destas manhãs,ele lá estava,e ainda está,para gáudio das centenas de visitantes diários que elegem a "sala de visitas" da nossa cidade como uma referência obrigatória para o preenchimento dos anseios que as trouxeram até à nossa terra...
Bendita a hora,em que o Município e a Associação da amizade e das artes galego portuguesa,se lembraram de traduzir em uma acção conjunta,a amplitude intencional de num dar de mãos,poder aqui motivar a reflexão de como se pode construir um mundo melhor,a nível da arte,mas essencialmente ao nível da amizade.
Com uma exposição patente no primeiro piso,versando e homenageando as gentes do mar,onde as peixeiras são a luz de brilho que mais alimenta esta iniciativa,ficou este espaço de cariz tradicional e cultural abrilhantado e fortalecido na essência histórica que o projetou e projeta há mais de cem anos.
Por entre as emoções que lá se vivem,e aquelas que se podem agora viver,para quem não passe a maior parte do tempo sentado em cadeiras,e com a cabeça sem sol,basta soltar a sua sensibilidade aos quatro cantos do Mercado da Figueira,e logo encontra tanto,mas tanto,para refletir e viver na total liberdade de uma vontade,que aliás está bem simbolizada e sugerida numa peça de arte que por lá poderá encontrar,feita com o coração,sonhada pela alma,e conseguida longe dos condicionalismos da vida...
Oito tentáculos,uma cabeça enorme,dois olhos atentos e ansiosos,que até justificam a piada que um transeunte lançou com um sorriso largo e mesmo roçando os píncaros da gargalhada,onde revelou a alto e bom som um refinado cunho imaginativo,e até mesmo sarcástico para com a criatura suspensa,a quem desafiava a mostrar as oito fotos dos executores,e a cabeça do executante...
Perplexo ficou quem ouviu,e provavelmente nada percebeu,se é que havia alguma coisa para perceber,agora ficou certo de que aquele boneco,ou bonecos,como queiram,era uma atracão que faz bem,e fará a quem se goste de deixar enrolar pelo enigmatismo das coisas,enquanto mensagens que bailam entre a subjectividade e a objectividade do destino.
Na sombra dos movimentos dançantes,se vão tirando fotos individuais,de família,de amigos,afinal enquanto um centro de emoções que se querem para a posteridade.
Pois que seja bem vindo o polvo, e que espero não ligue a todas as "bocas" que lhe são lançadas,porque afinal de contas,sabendo para o que ia,melhor sabe ainda que num mercado onde "rola povo aos trambolhões",será de esperar alguma incongruência e injustiça de quem nada sabe e pouco percebe...
Mais junto à porta ribeirinha,salta um peixe graúdo,belo e cintilante,onde o prateado das escamas se insinua como reflexo espelhado das barbatanas coloridas,e mais ainda daquele olhar garboso pelas fitas homenageantes que ostenta,com a honra e as tonalidades da Figueira da Foz.
Sem dúvida,mais um objecto de arte,que só pode circunscrever a sua presença na vontade pura de uma tradução fiel à alma do mar,e ao sonho subjacente de quem dele é dependente e o ama com uma ternura infindável.
Outra história se ouviu antes da chegada,quando uma criança com as mãos entrelaçadas nos seus avós,caminhava para dentro do mercado,na promessa sedutora e proposta pelos seus "papás mais velhos",de que agora iria ver os peixinhos.
Pois é,até arrepiou quem conheceu o jardim municipal nos tempos áureos,e de forma introspectiva,chorava a macabra e triste sorte daquela criança.
Com a chegada deste exemplar tão belo,quanto majestoso,acredito eu,podem agora levar as crianças a ver os peixinhos que lhe podem alimentar o sonho,e não atormentar a noite.
Subindo ao primeiro piso,a pé ou de escada rolante,é como caminhar para uma aventura que pode durar o tempo que se quiser,na certeza segura do que se encontra como expressão de seres tocados por uma luz que nem todos a sabem desenhar ou traduzir,e que são no fundo aqueles que abrem caminhos para quem esquece,para quem não se aventura,ou se perde e tem aqui uma boa oportunidade de se voltar a encontrar com o verdadeiro mundo.
A peixeira,é figura carismática de uma meio,com uma mentalidade com mais do que uma postura,onde as cores e os sons se casam na irreverência e atrevimento da língua e das letras,que se soltam em cada momento,e por isso sinceramente,também eu gosto delas...
Foram homenageadas,foram enaltecidas,e até há quem diga que por serem a alma do Mercado,pois bem,até o aceito com a justiça de quem sente,de quem se motiva com o que é diferente,mas os horizontes não se esgotam num só caminho,e as repetições nunca fizeram um cenário num todo.
Obrigado,a quem se lembrou desta bela iniciativa para o Mercado da Figueira,e que entre as intenções concretizadas,saiba aceitar com humildade as críticas e perspectivas dos "leigos",porque afinal de contas estes também existem,também sonham,também sentem,e também gostam de ser verdadeiramente livres.
Custódio Cruz