segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010
A saudade não mata...mas arranha que se farta...
Abadias...o quintal dos meus sonhos...
Que saudades daqueles tempos de miúdo...
Por ali brincava de manhã à noite...jogava à bola,às escondidas,fazíamos corridas...
Eu sei lá...
Aquele foi o estádio da minha infância,todos os dias havia embates,campeonatos de uma competição pura e inocente,onde ninguém perdia e todos ficavam a ganhar...todos éramos campeões...porque também todos éramos amigos de verdade...e sem lugar a ressentimentos nem hipocrisias,mas prontos todos os dias para uma nova aventura e a novos desafios...
Para isso,só tínhamos mesmo que ao entardecer regressar a casa na procura do "descanso do guerreiro",recolher à nossa caminha e sonhar com um novo amanhecer...
Recordo ainda com uma grande nostalgia...o quanto eu tinha que usar da minha imaginação para justificar perante os meus pais as horas tardias com que regressava a casa...
Afinal de contas... depois de tanto pensar, a solução estava ali tão perto e tão fácil e em consonância com a beleza daquele quintal e subtileza do meu coração...
Nas abadias recolhia umas flores e construía um ramo o mais aprumado possível para chegar a casa e oferecer à minha mãe, que embevecida pelo gesto me protegia do meu pai por algum açoito bem puxado...e nada agradável para a recepção a um pequeno campeão como eu...
Passado este desafio... o meu pai "sorria à socapa" e ficava pela reprimenda do costume,a minha mãe empurrava-me para o quentinho de uma bela e doce "banhoca"... embalando em mim a certeza daquele amor único que só uma mãe nos dá...
Alimentava-me... e logo eu corria para a janela das traseiras da minha casa amarela...e como na altura ainda não havia de todo prédios na Avenida Gaspar de Lemos,lá ficava eu em silêncio no parapeito da janela e de olhos brilhantes soltando a imaginação...e vagueando de novo nas abadias com o cair da noite...
Eles lá estavam...os candeeiros acesos sozinhos e frios rompendo naquele maravilhoso breu,como que alumiando as almas que por ali descansavam à noite...
Ansiando pelo regresso do sol,só voltava a dar um salto estremecido quando o meu pai para não quebrar a liderança num castigo que nunca tinha,me advertia de novo e na frase do costume:
"...Custódio vai para a cama..."
Fechava a janela à pressa e corria para o fundo dos cobertores aconchegantes,fechava os olhos e acelerava de novo a vontade de poder entrar em acção...naquele estádio que era só meu...e de todos os meus amigos...
Olho para esta foto e não sustenho uma lágrima furtiva,com a saudade e o sentimento nostálgico de quem dava tudo para fazer um regresso ao passado...voltar a ter a emoção de viver como naquela altura onde transpirava uma áurea de sonho pelos poros de uma essência...que ainda hoje não me larga e me faz cativo...de uma infância que eu nunca queria que tivesse acabado...
A saudade não mata...mas arranha que se farta...
Agradeço ao Flórido do jornal onlin "O Palhetas"a possibilidade de observar esta bela foto que ele tirou em 21 de Dezembro de 2008...e com ela ter oportunidade de fazer o tal regresso ao passado "Voando nas asas do Tempo..."
Custódio Cruz