sexta-feira, 13 de maio de 2011
Porque a vida também é feita de coisas simples...
Fui tomar café...e no meu "canto" habitual observava dois casais em alegre cavaqueira...
Entretanto e fora da conversa...uma menina pulava de um lado para o outro...e como que sentindo que todos se estavam a esquecer que ela até andava por ali...iniciou uma correria desconcertante...
Saltava...rodava...e variava de ângulo consoante os gestos que o seu pai fazia no dito cruzamento de palavras e mais palavras com os seus amigos...
Sim...para ela não passava de isso mesmo...e a sua incompreensão era evidente...
É...a miúda até sorria...mas cada vez mais me parecia inconformada com o seu "abandono" no meio de tanto burburinho e "risadas" à mistura...
Vai daí...levantou a voz...e mais do que isso gritou...
Ó pai...qual é a palavra que começa por um D e acaba num O?...
Pelo pouco efeito da sua provocação e sem o eco da resposta...insistiu...
Pai ouviste?...
Qual é a palavra que começa por um D e acaba em O ?...
Bem...aí...o pai respondeu-lhe de forma curta e apressada...na certeza de não se perder no raciocínio...e continuar a "curtir" aquele bom momento de adultos distraídos...
Ó filha...já sei...é o DEDO...
A miúda até não se incomodou desta vez em que o pai lhe tivesse de novo virado a cara...
E gritou ainda mais alto...
Enganaste-te...é o DADO..
E esboçou um sorriso traquina...para quem mais não merecia do que uma resposta a preceito e bem calculada no rigor de quem tinha estado a ser ignorada até ali...
Perante este "acerto" da menina...eis que se fez um silêncio entre todos...a garotinha refugiou a cara por detrás da mão...e esperou reacção à sua meia verdade...
Afinal...tinha trocado as voltas ao pai...e fê-lo sempre com os olhos nos olhos...mesmo agora que também todos estivessem calados...
Soltaram-se enormes gargalhadas...e ruidosos aplausos pela simplicidade na verdade encontrada...
O rapariguita tinha conseguido a atenção geral...e assim já mais satisfeita foi ter com um "fiel amigo" que deitado estava no chão...
Fez-lhe festas e encostou-se a ele...como que lhe segredando "a volta" que tinha dado ao seu pai na resposta...
Adormeceu...e nem se apercebeu dos murmúrios com que o Pai a presenteava...
Malandra...dizia ele...já me enganas-te...
Levantei-me...e paguei o meu café...
Passei por eles...e mudo e discreto sorri na satisfação plena...
Caminhando passo a passo e com destino para casa...fui reflectindo na companhia do meu silêncio...e mais convicto fiquei...que mesmo mentindo só as crianças são de facto possuidoras da verdade...
Sim...porque até o sabem fazer...mas nunca deixam a "mentira" escondida numa verdade enganadora...
Cheguei ao meu "Bunker" e ao fim desta noite escrevi este texto...e de coração desejo a todas as crianças do mundo...um soninho bom...e que este nunca as deixe acordar diferentes...porque só assim elas dão força a uma verdade insofismável...
Só mesmo as crianças são possuidoras da verdade...
Bons sonhos...e até amanhã...
Custódio Cruz