Esta noite aconteceu isto,
amanhã vai acontecer de novo,
depois de amanhã irá de certo piorar...
Se houvesse uma catástrofe natural,
montavam-se tendas,
accionava-se um qualquer plano de emergência,
surgiria o oportunismo do "espectáculo solidário"...
Enfim,
saltavam para o palco as figurinhas do costume,
os artistas de gravata engomada,
os trapaceiros das palavras...
No meu país somos um povo de bom coração,
uma gente de pouca ilusão,
uma raça lusitana que diz sempre que não...
Que não,
que não viu,
e que nem sequer reparou...
Fecha-se a porta,
e esquece-se a calçada da rua,
ouvem-se as notícias,
mas ignora-se o frio das pedras polidas...
Pois,
amanhã é um novo dia,
e "eles" já por lá não estão...
De mão estendida,
protagonizam o outro lado do drama,
a que só os menos pobres tentam acudir...
Os Mercedes não param,
os BMW(s) não abrandam a marcha,
não há tempo para estes "pequenos nadas",
que não promovem ninguém,
não dão prémios de altruísmo,
porque afinal de contas sempre assim foi,
e sempre assim será...
Pois,
mas se calhar mais agora do que ontem,
mesmo do que anteontem,
e de certo muito mais do que aquilo que nunca se viu...
E até quando ?