Para mim fazer caminhadas ainda não é um hábito,mas por vezes uma necessidade...
Palmilhando a Avenida 25 de Abril até Buarcos,experimentam-se emoções múltiplas feitas de um qualquer reencontro agradável ou nem tanto assim,ainda que por certo sempre se tenha a possibilidade da libertação da alma entre os contornos do mar,a infinidade do horizonte,a melodia assertiva de um "vazio" que muitas vezes desejamos como companheiro de reflexão...
Por isso mesmo,a ideia até não é "tomar conta da vida dos outros",e bem pelo contrário o que mais precisamos é apenas desfrutar das suas presenças enquanto "sons" que completam a existência do mundo,e do qual nunca queremos e nem poderemos viver dissociados,na directa consequência de que perdidos estaria-mos sem que nos encontrássemos a nós próprios...
O certo também,é que sempre pode surgir "algo" que nos "toca" e desacerta o plano,pois aquele filho de meia idade sentado paralelamente ao equilíbrio de um pai já de história preenchida,completou um quadro de uma perfeita harmonia entre a expressão da vida e a presença dos seus valores mais intocáveis na subtileza de uma gratidão feita de verdade...
Aquele olhar experimentado e profundo,não me coibiu de observar o dedicado exercício de "pedicure" no alinhamento de unhas endurecidas pela vida e agrestes na predisposição de um "homem do mar",que não se gostam de ver apaparicados,ainda que no conformismo,assim também nunca se sintam sozinhos...
Respeitei-o sem abusos, e segui em frente...mesmo que alguns minutos depois tivesse de regressar pelo mesmo trilho...
Não foi com o propósito,mas porque quis...afinal pouco mais de novidade se teria para acrescentar ao estremecer de uma saudade e sentimento que identifico perfeitamente...
Agora era só "aparar um pouco as suiças",dando o mote à imagem de uma dignidade que distribuiu a sabedoria e compaixão pelos seus...
Um pai e um filho,uma razão e dois seres...a vida e os valores de uma tal verdade que sempre nos consola e nos dá a mão para caminharmos sem grandes desfalecimentos...
Olhei para trás, e "ele" esboçava agora um leve sorriso "vidrado" na minha trajectória...
Apanhou-me foi isso,na verdade não resisti ao encanto daquele cenário único e gratificante com que os "espíritos" sempre nos podem presentear...
Que grande caminhada a de hoje...não a vou esquecer tão depressa...
Custódio Cruz