As crianças sim,
têm o dom de ser todas diferentes e todas iguais,
têm feições distintas,mas expressões idênticas,
não avaliam as farpelas,
mas pelo contrário escolhem na pureza dos sentimentos os fluídos em cristais que iluminam o seu imaginário...
No mercado Provisório,
conheci o Afonsinho,
ou melhor,
nasceu entretanto,
e foi-me apresentado pela sua mamã.
Com menos de um ano,
ficámos amigos,
e ambos com muitas histórias para contar.
O patinho,o galo,as pombinhas,
as cóciguinhas,os beijinhos,os sorrisos,
tanto amor distribuído de parte a parte,
que agora a saudade vai ser maior,
com um afastamento feito de uma vida que nos transporta de um lado para o outro,
e assim nos afasta mais tempo daqueles que mais gostamos...
Para ele andar de colo em colo,
era na boa,
para dormir a soneca da ordem,
tinha por conta o "balancé" da Arminda,
a "papinha"era sempre preparada pela doce mãezinha,
já a fantasia dos passeios,
estavam por conta daquele que quando o via suspirava de alívio pelo tempo já demorado,
suplicava com palavras moldadas em gritos,
para um salto para os braços do seu melhor companheiro...
O Afonsinho e o Custódio,
o Custódio e o Afonsinho...
Primeiro aconchegava a face naquele ombro amigo,
a seguir,
lançava as unhas na barba áspera e desafiadora para uma provocação de circunstância,
sem perder tempo,
impulsionava o corpo para o movimento de um passeio que já conhecia,
mas que sempre esperava contemplasse novas aventuras feitas de cores múltiplas
e sonhos maiores...
Estas coisas sentiam-se,
viam-se na luz dos olhos acesos com que o Afonsinho me desafiava a interpretar,
e só faziam uma pausa,
quando o entregava ao aconchego único do doce maternal,
ainda que se despedi-se com o tal suspiro profundo,
de quem gosta porque gosta,
e nada mais do que isso...
Fascínio mesmo,
e nas que o seu colo queriam experimentar,
eram os brincos,os colares,os fechos,as pulseiras,
ou tudo aquilo que luzisse como um ouro feito de curiosidades de uma vida por descobrir,
de um enorme sonho por concretizar,
de um longo caminho que se Deus quiser irá palmilhar...
O Afonsinho é uma criança,
eu gostava de a voltar a ser,
como tal não é possível,
Afonsinho,
gostei muito de te conhecer,
de reviver,
de me arrepiar em sentimentos perdidos há muito,
mas achados de novo à luz de um mundo
que anda a pensar muito pouco em todos vós...
Hoje é o dia "Mundial da Criança",
já os dias que restam para além deste,
espero sejam muito mais ainda que amor por vinte quatro horas...
Custódio Cruz