Afinal a vida foi,é...e será sempre um desafio na sequência sólida de percorrer caminhos que se ajustem à reflexão equilibrada e tolerante, onde os projetos nunca acabem, e se definam cada vez mais naquilo que queremos ser, e não no que os outros querem que nós sejamos...
Perceber que refletir e concluir são atos que não podem estar confinados apenas ao reflexo daquilo que experimentamos sozinhos, ou obcecadamente vemos nos outros,caindo assim na tentação de criar verdades absolutas agarradas a pressupostos com falta de equilíbrio identificativo da nossa própria vontade...
Não podemos nem devemos querer para os outros aquilo que foram momentos nossos,e ajustados apenas e só para nós próprios...
Fazer crescer é educar e tentar ser amigo,é procurar limar com valores acrescentados os passos próprios de uma imaturidade pela qual quando jovens naturalmente passamos,e ou se está bem atento,ou então ficamos apenas por nossa conta,e isso pode ser muito perigoso...
Sinto sinceramente que os "meus" me olham com a admiração de quem foi livre de escolher o seu próprio caminho,com responsabilidade e dispensando cópias comportamentais,mas entendendo que a partir de uma "base experimentada" também podemos ramificar genuinamente o nosso próprio"eu"...
Só se vive uma vez,e tirar originalidade a um ser,é limitar as emoções que estavam reservadas para cada um,e isso eu penso que não é justo...

Custódio Cruz

Aprender com a nossa sombra,e fixar os olhos em outras...

Aprender com a nossa sombra,e fixar os olhos em outras...
"...No dia em que me silenciarem a voz,não me apagarão os gestos,no dia em que me aniquilarem os gestos,nunca farão esquecer os meus sentimentos..." CustCruz

domingo, 24 de abril de 2011

Domingo de Páscoa...o dia em que Deus venceu a morte...


Levantei-me cedo...e até porque uma pomba que na véspera tinha estado a "baloiçar" no meu estendal...hoje resolveu mesmo acordar-me de forma doce...poisando desta feita no beiral da minha janela....e com leves batimentos da sua movimentação...fez soar pequenos sons... tão subtis quanto estrondosos por algo estranho que nunca me tinha acontecido...


Não...de seguida não fui à missa...porque nem sequer é hábito...e nem sequer tenho convicções certas de que a minha presença seria boa para a minha alma...


Tomei o pequeno almoço...e depois tive muita vontade de ir ao cemitério visitar as campas dos meus pais e colocar em cada uma delas um pequeno ramo com apenas uma gerbera... e um pouquinho de verdura com uns pontinhos brancos que sinceramente à qual não sei definir no nome...


Enfim...sexta-feira estava no mercado...e alguém passou sem que eu visse...e deixou tombar as duas tais gerberas...uma mais à frente...outra mais atrás...pois é...talvez alguém mais apressado que as deixou cair de algum ramo "bem composto"...


Olhei...e juntei-as na minha mão direita...voltei a olhar e não consegui encontrar o dono...


Pensei...que fazer?


Lembrei-me...e senti um quentinho vindo do coração...por uma solução tão óbvia e tão adaptada a uma nova realidade com o que melhor mesmo é ter que me habituar em tempos tão difíceis como os actuais...


Estas flores eram daquelas que eu comprava em ditos "ramos compostos"...antes de eu ter medo de perder o meu lugar de trabalho no mercado...e agora...podia afinal de contas dar-lhe o mesmo destino e colocá-las junto dos restos mortais do meu pai e da minha mãe...


Afinal não deveria ser pecado...que o fizesse com estas duas flores que encontrei perdidas no chão...


Pedi à Cidália florista que me as colocasse junto das suas e em água...para que não se estragassem...e assim no Domingo de Páscoa já pudesse ter um gesto tão simples mas muito sentido por uma saudade que tenho dos meus progenitores...e que tanto faz sofrer o meu coração...


Ao outro dia depois da venda...lá fui ter com a Cidália...e ela fez-me a surpresa de os ter ajeitado com com uma tal verdura que lhes deram um ar tão singelos e únicos...e onde apenas uma flor me enchia tanto o coração ...tal qual um ramo "bem composto"...


Agradeci e fui todo contente para casa...hoje fui acordado...e corri depressa a concretizar o meu anseio...deixando lá também uma velinha acesa...para que eles a vissem à noite e sentissem o quanto os amo ainda mais e há medida que o tempo passa...


Domingo de Páscoa...ao que dizem...o dia em que Deus venceu a morte...


Sim...eu sou católico não praticante...como muitos dizem como reflexo de uma filosofia cristã menos traduzida na prática católica no mundo...ou então...mas não no meu caso...como outros fazem para "jogar" em todos os campos...e de forma pragmática estarem também contemplados por alguma surpresa agradável que aconteça para além da morte...


Eu creio em "algo"mais...do que tudo aquilo que nós vivemos nas emoções físicas ou mentais do dia a dia...e até confesso...que ainda assim nunca deixo de ter as minhas dúvidas por perto...


Mas a final de contas...desde quando é que o mundo é feito de certezas?


E não serão essas dúvidas...os desafios que Deus nos deixou?


E não será com essas incertezas...que nós poderemos a nós mesmos provar o quanto podemos ser bons com os outros...e sentirmo-nos tão bem por lhes provocarmos o sorriso da felicidade?


Será que Deus existe?..


Será que se"tudo e todos" têm derrotas na sua existência...a morte não as terá?


E o mais importante será o de saber ao certo se "ele" existe...ou se a morte também é derrotada como sinal providencial de luz para uma prática de vida em comunhão com quem nos rodeia?


Talvez não...e aqui confesso que continuo sem certezas...


Só sei...que alguém perdeu duas flores...que eu as achei...que a Cidália as compôs...que uma pomba me acordou de forma inédita...e que as fui levar ao cemitério num gesto que me encheu o coração e libertou a alma...e me deu uma paz...que já ninguém me retira neste abençoado Domingo de Páscoa...


Desejo a todos a sorte que eu tive...


Custódio Cruz