Faz amanhã um ano que a minha mãe partiu...
Pensei que seria o fim de uma história de amor...como as demais que não se alimentam... e que se não morrem... enfraquecem para sempre!...
O certo é que tudo está igual ou pouco mudou...o amor continua vivo...e nada nem ninguém consegue apagar aquela chama de uma "vencedora..." de uma vida imparável e comandada com o privilégio do coração...
Tantas histórias de vida tinha para contar desta "guerreira sem par..."onde a inteligência natural de um ser diferente... combinava a preceito com os instintos de quem ama não por amar...mas pela subtil escolha de quem só era feliz...se à sua volta a felicidade imperasse...
Ficou assim a saudade e as lembranças de um trajecto...onde o seu coração comandou a grande parte da sua...e das "nossas" vidas!..
Tivemos sempre uma "casa pequena..."porque ás circunstâncias de um dado momento de vida...a minha mãe abria as portas do amor dando guarida e compaixão a quem precisava...mesmo muitas vezes a quem ao nosso sangue nem pertencia...
Já a "panela era grande..."
Dizia ela...que não conseguia fazer pouco comer...e que até calhava bem...porque podia ser que fosse preciso para alguma visita inesperada...
Quando esta visita não aparecia...tínhamos como certo comida aquecida para o outro dia...porque também dizia ela...que era um pecado deitar fora aquilo que no mundo tantos desejavam ter... e não conseguiam...
Era esta a DªMaria Augusta...que vendeu amendoins,bolacha americana,castanhas,foi empregada no grande hotel e também nessa condição até viveu no Palácio Sotto Maior...
Pois!...não fazia de rica...mas também "não era um pau mandado..."(nem pouco mais ou menos...)e por isso desfrutava dos enormes corredores e "não se perdia no vazio..." daquelas salas sociais...que lhe diziam pouco ou nada...mas também não incomodavam o espaço de quem sabia estar no seu lugar... e também assim conseguia ser feliz por viver num palácio...
Era como espalhar o seu perfume e charme de um enorme ser humano... mesmo que pobre monetariamente...evidenciar a "personalidade muito rica..." na solidez do seu espírito...
Sempre se respeitou...e fez respeitar...
As lições ela deixou-mas...os caminhos escolho eu...
Foi isso que ela me ensinou...e até para a sua "ausência..." ela me quis precaver... quando referia de tempos em tempos:
"...caminha filho...que eu qualquer dia morro..."
Pensava que estava sempre com aquela brincadeira só para me chatear...
Mas afinal não...
Era verdade...
Deixou-me o coração nas mãos... e uma saudade no peito que não sei se conseguirá morrer...quando eu pregar esta partida a quem amo e muito quero...
Amo-te minha querida mãe...
Custódio Cruz