Foram muitas as personalidades distintas que tenho encontrado ao longo da minha vida no futebol...umas mais difíceis de lidar e outras mais fáceis...umas mais provocadoras e outras nem tanto...enfim...mas curiosamente foram as ditas mais difíceis que mais me apelaram ao meu exercício reflectivo...pois revelavam afinal o quanto não se distanciavam assim tanto de mim próprio...e que por serem polémicas me colocavam à prova e seduziam no desafio do confronto de ideias e posturas...tendo como reflexo aliciante o atrevimento de as poder modificar...
No fundo ainda reforçavam mais o meu sentimento do quanto afinal era importante para os meus jogadores e mesmo para mim próprio...na construção de personalidades que não se podiam só alimentar de vitórias dentro de um campo de futebol...
Quem os visse...até pareciam meus inimigos...mas eram afinal amigos encobertos por uma áurea de desencanto à qual eu naquele dado momento das suas vidas era perfeitamente alheio...
O problema mesmo...era que eu me aproximava de mais dos seus castelos...queria perceber aquilo que eles nem sequer equacionavam mostrar...e por isso mesmo era repelido muitas vezes por uma defesa de sangue ou convicções complexas...na razão directa da provocação e veleidade por uma procura atrevida desse mesmo conhecimento...e ao qual não tinha permissão nem sequer para me abeirar...ainda que eu teimosamente o fizesse e por isso pagava a factura desse mesmo arrojo...
Tão diferentes de mim e afinal tão iguais...
Tinham a mesma irreverência do que eu...e faziam uso dos mesmos silêncios de estratégia observativa...não dando muito tempo para olhar para eles e poder captar respostas para as minhas interrogações no caminho da solução adequada...
Era preciso muita paciência...muita persistência...e esperar uma oportunidade estratégica para provocar um efeito adequado à pedagogia pretendida...
Porque estavam sempre de sentinela...defendendo um ego de portas fechadas ao conhecimento alheio...e só de surpresa lhes arrancava um "sorriso de conformismo"pela minha capacidade com que lhes "tirava" de rendimento acima daquilo que nunca tinham "dado" a ninguém...
É por isso mesmo que nem pouco mais ou menos os detestei ou detesto...e foi um com um grande prazer que os tive como jogadores...ainda que algumas vezes tenha chegado a extremos que tenho a certeza foram prudentes como lição de doseamento emocional...e útil como indicativos futuros em como não se devem expor aos limites perigosos que a vida nos coloca no caminho... Talvez nunca o vão reconhecer perante ninguém...mas também nunca foi isso que quis e que ainda hoje também não quero...
Prefiro que a vida nos tivesse feito cruzar...e com isso termos tocado as emoções mais fortes do desafio humano...e até arranjado formas conciliatórias de obter vitórias dentro do campo e fora dele...
Arrependo-me de muito pouco do que fiz no futebol...só que algumas coisas também não as queria ter feito com tanto rigor na exigência adequada aos dados momentos...
Mas lá está...pouco havia a fazer...a minha "postura intuitiva e emocional" empurrava-me para a solução mais prática...e a que tinha como certo os melhores e mais seguros resultados...perante a disciplina e o rigor de um grupo que se queria coeso e ambicioso dentro e fora do campo...
Foi muito bom ter treinado certos "cromos"...que guardo na minha caderneta do futebol...e que tenho a certeza que para me voltarem a sair...vão ser mesmo os mais difíceis...e isso é o que tem mais graça neste tipo de coleccionismo de memórias de um passado já com alguma distância...
Estão "naquele lugar especial" que reservei para todos aqueles que treinei...e que ainda hoje me fazem sorrir pelos defeitos e feitios com que tanto me fizeram reflectir...proporcionando o meu crescimento como treinador de futebol e condutor humano...
Até de vocês tenho saudades...seus gradessíssimos chatos...
CNC