segunda-feira, 15 de abril de 2013
É, chegou a hora de abrir os olhos,olharmos à nossa volta,e refletir mais...antes de se andar em frente sem saber para onde nos leva o destino...
Opinião com LUÍS CASTRO
Há pouca tolerância a textos bajoujos, mas alguém tem de os escrever.
Há textos que caem em nós, outros nos quais caímos.
Não seriam nove horas. Era noite. Dava passos para casa, quando esta já estava na cabeça. Nada corre mal no caminho de casa. Quando a casa é cheia, quando se vem de trabalho realizado e quando, ao menos, naquela vemos bondade. Nada pode correr mal no caminho de casa. E não correu. A desgraça e falta de dignidade não se deram ali.
Só desviámos o olhar. Ambos o pusemos no chão. Ele estava numa fila, um pouco afastado, à espera do jantar e eu passei nesse momento. Conhecemo-nos. Ele fez que não baixando os olhos e eu compreendi.
Já teve vida que aos outros parecia boa, tinha trabalho, família, saúde e dava sobras de esperança. E agora estava ali, levando-as.
Eu fiz o resto do caminho de casa num espírito diferente.
Sim, são precisas reformas estruturais (embora não haja sequer consenso sobre o seu significado e por onde começar), sim, o mundo mudou e sim, dá-se o primado da economia e da engenharia financeira sobre a política. Mas, que nos interessa mais agora do que criar emprego e devolver a dignidade às pessoas? O resto é conversa. E isto tem de se dizer, pelo que os esforços e o tempo, têm de estar aqui centrados. E a acção tem de ser rápida.
O pulsar perante uma Europa em tudo desunida, a suposta credibilidade externa – de onde se julga estar a sobrevivência -, é um delírio a (e de) longo prazo. O desemprego e a falta de dignidade nunca são inevitáveis, mesmo quando, circunstancial e historicamente, o são (ponto).
Um dia, Agostinho da Silva, que falava como quem se queria libertar do demónio da sabedoria, uma coisa que não era sua, mas para dar a outros, quando Victor Mendanha lhe julgava perguntar sobre como resolver as dívidas dos países, respondeu: “Por política, por pensamento político? Não creio muito nisso, sabe? A situação é tão complicada coma a textura da Terra, com as suas placas tectónicas que, de vez em quando, chocam umas com as outras, provocando um terramoto.
Então, poderíamos censurar o mundo dos engenheiros por não terem encontrado, ainda, as máquinas suficientes para evitar os terramotos, não deixando chocar umas placas com as outras.
Não fazemos essa censura por pensar tratar-se de uma atitude idiota, no entanto continuamos a censurar os políticos porque eles não arranjam as máquinas necessárias para evitar os terramotos políticos.
Os actuais problemas do mundo são de tal ordem que excedem toda a capacidade humana de os pensar.
Não sabemos por exemplo como iremos resolver o problema de manter vivos os desempregados já que serão cada vez mais por uma razão muito simples: eles não são desempregados, o que desapareceu no mundo foi o emprego.
Não poderei dizer não estar o meu casaco pendurado se não houver cabides, sucedendo a mesma coisa com o desemprego: se não existe emprego como pode o desgraçado estar desempregado?”.
Como ainda faz sentido esta visão! E como é importante ter em mente que pensar a pergunta e entender a pergunta é metade da resposta. E como é importante a filosofia na escola, tal como o são, em igual medida, as contas e a matemática nas vidas de todos e dos países.
Victor Mendanha é capaz de ter percebido e lembrado, ao contrário de nós, que, nessas conversas, Agostinho apontou o início da solução:
“Então, a primeira ideia que Camões coloca aos portugueses que pensarem construir o tal Céu na terra é que não se atrapalhem a fazer muitos planos porque, quem sabe, por vezes os planos – se os marinheiros os tivessem – não iriam atrapalhar os planos da Deusa.
É ela que anda com a ilha de um lado para o outro, até ver o momento certo de a colocar diante das proas dos navios, de tal maneira que os marinheiros desembarquem.
Então existe um ponto importante, que é o seguinte: nenhum navio teria chegado ali se os marinheiros não tivessem cuidado dos navios todos os dias, baldeado o convés, remendado as velas, tratado do cavername.
Não devemos fazer planos para aquilo que queremos alcançar, atrapalhando com eles a vida, mas devemos manter os nossos navios inteiramente em ordem, em perfeita ordem, para que eles cheguem lá…E além disso, possuir as forças internas de tal maneira dispostas que não fiquemos hesitantes diante das ilhas, não sabendo se desembarcamos se não desembarcamos.”
Quase parece que Agostinho não diz nada, quando diz tudo.