É verdade que o tempo vai passando,quase se pode esgotar até a paciência,mas quando se persiste na invocação dos sonhos realizáveis,mais tarde ou mais cedo os sorrisos da vitória acabam por se espalhar pelos cantos idealizados, pelos enredos projectados,pelas imagens desenhadas por personagens electrizadas em uma química a que só faltava misturar o brilho dos olhos.
As dúvidas deram lugar ás certezas,o anseio tornou-se realidade,e eu nem tinha tanto tempo assim para fazer parte de uma festa que eu tanto sonhei, em todos os dias da minha vida,mesmo até depois de abalar da quarta colectividade mais antiga de Portugal,não podia porque não conseguia esquecer que asas nos poderiam a todos transportar para um novo "palco dos sonhos".
Impulsionado por verdadeiros amigos,voltei a dispensar algum ganho material,peguei no meu Fiat Uno e percorri mais rápido um caminho que em outros tempos fazia a pé e várias vezes ao dia.
Caramba,tantos carros estacionados à chegada,mas ainda assim, tive sorte porque mesmo junto aos cepos mandados plantar pelo Professor Borronha,consegui um lugar para estacionar,e logo com uma sombra providencial para refrescar entretanto arrepios traduzidos em suores emocionais,e fazendo um esforço para tentar ouvir e assim controlar um coração que batia acelerado pela emoção de voltar a entrar no campo de Treinos do Municipal José Bento Pessoa.
Dobrado o portão de entrada,deparo com uma bancada que faz força sobre um barro vermelho,e de onde agora se espera nasçam os camarotes do "povão" apaixonado pelos efeitos de uma qualquer bola,que complete a paixão de se ser feliz,para além das outras páginas de vida que são menos imprevisíveis,mais monótonas,e menos capazes de nos fazerem desejar com sofreguidão que cada fim de semana surja o mais rápido possível.
Derrepente dou por mim a caminhar de forma íngreme junto a uns balneários obsoletos e ultrapassados no tempo,e isto tudo perante a actual realidade cintilante de um verde de uma esperança, para que "os pequenos e grandes guerreiros" no final de cada "combate"possam ter as condições para os banhos também retemperadores de histórias acabadas de nascer.
Lá para a frente e na altura dos discursos, ouvi bem alto promessas de continuidade nas melhorias estruturais,e isso fez-me respirar com algum alívio,ainda que a ansiedade do passado voltá-se a tomar conta dos meus desejos.
A cada passo que somei,sempre senti a irregularidade de pedras que não me eram alheias,de caminhos que não me eram estranhos,de cruzamentos tantas vezes concretizados numa casa que afinal ainda não tinha esquecido,e que o menciono presunçosamente,me parecia estar feliz com a presença do silêncio físico que tantas vezes lhe confiei,das reflexões sonhadoras que soletrei em cada um dos seus tais encantados pontos,os tais pontos que eram os primeiros das vitórias que haveriam de surgir para bem de todos nós.
Aproximei-me da rede que delimitava a acção dos pequenotes que agora corriam com vontades redobradas,e encostei o nariz à rede,mesmo que não tenha conseguido captar o activo olfacto da relva,foi compensatória a sensibilidade dos meus olhos na alegria contagiante de um "campinho"regular,apetecível para quem gosta de tratar "a redondinha" como ela merece,e também como ela ilude quem consigo quer jogar.
O Sérgio não perdeu tempo,e como um bom "libero"que sempre foi,aproximou-se pé ante pé,e de forma tão sorrateira quanto aquela que em tempos usava nos jogos,sorrindo me felicitou e me "desarmou" em mais observações sobre os pequenos "craques da bola",confidenciou-me alguma tristeza com o presente do futebol de formação,da sua mentalidade,da sua forma de estar,do défice de paixão que sentia aqui e ali, numa realidade e num tempo que ele achava que deveria voltar para que a Figueira voltasse a dar jogadores aos quatro cantos do futebol.
Depois,foi tempo de completar a volta,já o jogo dos putos tinha terminado,e concentrei de novo atenções no campo de onze ali mesmo ao lado,enquanto isso,passava por perto o Nuno Ferreira,atrás dele ou muito em engano vinha um seu filhote,e isto até pela estrutura da sua frontalidade,que me fez sorrir ao bom sorrir,pois que olhando para dentro do "palco maior" e vendo "artistas a jogar com passos de cálculo",desabafou prontamente para quem o quis ouvir:
"...Epá,isto aqui é um jogo de velhos,fogo...é mesmo um jogo de velhos..."
Enquanto isso,fiz regressar as minhas atenções na identificação dos tais velhos que também um dia foram novos,e muitos deles meus jogadores,que agora mais pesados uns no físico e no tempo,e outros nem tanto assim,lá mostravam talentos que identifiquei rápidamente em cada um deles.
A postura do Hilário sempre de olhos vidrados na baliza,a sua recepção de bola para depois deixar cair o adversário na sua rede de intercepção,para nesse mesmo momento arrancar num pique estonteante e indicativo de uma progressão que tantas vezes deu golos e alegrias à Naval 1º de Maio,pois é,só que desta vez o "pique" não se soltava,e nem vale a pena dizer porquê, pois não?
Aquele passe do Jorgito do meio para a ala direita,partiu-me todo,meu Deus que geometria,agora devagar e devagarinho,mas o perfume estava lá...
O Bispo,sempre a comandar,ele ainda se lembra de certo o quanto previligiado é o lugar de um guarda -redes para orientar a movimentação defensiva dos seus colegas,pior mesmo, foi aquele "lapso de memória" sobre aquilo que um dia alguém lhe terá repisado,de que um guarda-redes perante um isolamento,ou sai ou não sai,ou melhor,ou encontra o tempo de saída e age convicto,o que não pode é hesitar depois,e pimba,sofreu um golo sem espinhas...
Mas vá lá,logo a seguir e em situação idêntica,como que traumatizado pelo anterior lance,e sei lá,com algum receio de um grito meu,mesmo que colocado no lado oposto do campo,lá se redimiu com uma bela defesa para canto,num lance em que o golo já contava nos apontamentos de muita gente.
O Marco 1,não facilitava na presença em campo,e assim até teve tempo para executar uma defesa em grande estílo,arrancando os aplausos da bancada.
Pronto,não vou individualizar mais,se não nunca mais daqui saio,apenas vos conto que resolvi sentar-me na Bancada para assistir á cerimónia protocolar de inauguração,e ainda tive tempo para advertir nas calmas quatro "putos" que estavam na bancada com um "paleio" impróprio para a circunstância de presença de senhoras por perto,ao que estes muito educadamente anuíram e passaram a comportar-se lindamente.
Depois os meus ex.jogadores exigiram a minha presença dentro do sintético,ali vivi gestos que saberei sempre interpretar só para mim,revivi momentos que só são possíveis entre quem se respeita e se conhece bem,através deles recuei num doce tempo que jamais esquecerei até que dobre a última esquina da vida.
Uma palavra muito especial para o Zé Armando,que sendo um vulto humano de uma dimensão incalculável,não larga a sua e nossa Naval,dedicando-se de alma coração a esta causa que ele recusa ver deixar morrer,é um ser que nunca desiste,é um homem que tem em si o exemplo que é preciso para que um clube com a dimensão da Naval não cai-a por afrontas que a vida lhes possa pregar,e nisso ele sabe muito bem como o fazer, pois se do zero se tiver que partir,com convição,paixão e devoção,a nossa Naval um dia voltará ser quem era.
Obrigado Jorge Humberto,aquela camisola que me deste ficou-me a preceito,tu és dos melhores amigos que tenho na vida,mas tu também sabes como todos os teus colegas não deixam de saber,que um tipo com o meu "mau" feitio não é fácil para se ser amigo,por isso,entendo que entre outros teus respeitosos amigos haja alguns para os quais não sou bem quisto,mas olha,sabes o que te digo,ai de ti que não me ofereças outra camisola em ocasião possível,pois se não o fizeres,vou comprar uma e mando-te a conta para casa,pois não pelo dinheiro,e tu sabes bem disso,mas porque tu és um número 10 que sempre estará convocado enquanto eleito da vasta equipa CNC.
Depois encontrei o José Eduardo,o Mário,o Curado,o Romeu,o Nandinho,sei lá tantos,olhem,o melhor é parar, pois que assim nunca mais acabo este texto.
Certo,certo,foi mais um dia feliz que tive calcando o tal caminho de pedras que sustentam sonhos,amizades e histórias que não acabarão nunca para quem as soube viver.
Certo,certo,foi mais um dia feliz que tive calcando o tal caminho de pedras que sustentam sonhos,amizades e histórias que não acabarão nunca para quem as soube viver.
Ora bem,quanto ao Presidente da Cãmara da Figueira Dr.João Ataíde,e sei misturar campanhas eleitorais,o que fica é a concretização de uma obra adiada em tempos e concretizada agora,acredito,e até porque não tem outro sentido,que as infraestruturas que falta completar serão meta para o futuro,e com certeza tem muitos motivos para sorrir depois de ver tantas crianças felizes com a concretização deste sonho.